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Qual será a chave para aceder ao silêncio do Tempo?
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A minha outra sala de estar
A propósito do Dia Mundial da Língua Chinesa no próximo dia 20, faço a ligação entre o livro O Conto dos Chineses, de José Cardoso Pires, e o livro Inner Realms of Ho Huai-Shuo. O Ocidente e o Oriente. A diversidade cultural e a sua expressão na Arte. Escritas diferentes. A sensibilidade e a beleza desenhadas. «O homem caiu das nuvens. Nunca lhe passara pela cabeça que se pudesse escrever tanto em tão poucos riscos», diz uma das personagens do conto de Cardoso Pires. O traço intrínseco da personalidade do escritor português revelado em cada palavra, em cada frase. A delicadeza interior do pintor chinês nos seus quadros e nos títulos escolhidos para cada um deles. Indissociáveis das pinturas e dos tons do seu olhar sobre o mundo. Lindos de morrer. Reminiscence of Paris no caso da fotografia acima. Sou fã do escritor, do pintor e das obras de ambos.
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O Conto dos Chineses, José Cardoso Pires, 2009, herdeiros de José Cardoso Pires, Henrique Cayatte (ilustrações) e Publicações Dom Quixote
Inner Realms of Ho Huai-Shuo, Published in 1981 by
HIBIYA CO., LTD. 2 Pine Villa, Kau To, Shatin, N.T., Hong Kong. Printed by
Scala Printing Co., Ltd. Taipei, Taiwan, Rep. of China
https://en.wikipedia.org/wiki/Ho_Huai-shuo
https://www.dn.pt/opiniao/sobre-o-dia-mundial-da-lingua-chinesa-13558620.html/
Foto retirada da Net
Nem sempre esta coisa de passar a palavra é fidedigna, por vezes já nos chega inquinada. Por engano, por informação pouco aprofundada, porque não é ouvida com clareza, porque deturpada de acordo com o interesse de quem a recebeu? Haverá por onde escolher. Em certos casos provoca sarilhos graves, bem os conhecemos na comunicação social e no frenesim dos interesses políticos ou outros. Felizmente existem casos inofensivos. Lembro-me, por exemplo, do chamado Jogo do telefone sem fio, que fez parte da minha infância e continua a estar presente nas brincadeiras em família, divertindo adultos e crianças. Sentados os participantes em círculo, todos ao lado uns dos outros, o primeiro jogador diz baixinho uma palavra ou frase ao ouvido de quem estiver junto dele, e assim por diante, até chegar ao último jogador que a dirá em voz alta. Raramente o resultado entre o que foi dito no início e o que se ouviu no fim é o mesmo, consistindo nisso o divertimento e o riso.
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Foto de M
Tirar as palavras da boca a alguém não me parece aconselhável. Há quem não aprecie ser antecipado na expressão do seu pensamento, uma espécie de roubo no seu tempo pessoal de ser e estar. Ui e então entre crianças crescem as queixas, os amuos, os ciúmes, as lamúrias. Eu é que quero contar a história toda, não és tu, eu é que vi o cão, eu também o vi, não viste, vi e sei o que lhe aconteceu, não sabes, mãe, pai, mandem calar a mana, não é justo… Alguns meninos até choram baba e ranho (os lenços de papel são úteis nestes casos), como estes do postal que a minha Mãe me enviou da Alemanha em 1952. E por acaso a menina com o cabelo escuro estilo punk, no lado esquerdo da fila do meio, até me lembra retratos meus com dois anos. Nessa idade eu não era pessimista nem de grandes choradeiras, e assim me mantenho, mas compreendo que certas situações nos façam perder a calma, como tirarem-nos as palavras da boca, por exemplo. Nem que seja pelo entusiasmo genuíno de alguém que me ouve por uma imaginada, ou desejada, concordância de ideias comigo, não gosto que isso me aconteça. Simplesmente porque os ouvintes às vezes não acertam no que pretendo dizer. Nem quando termino as frases, quanto mais no início ou a meio delas.
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